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27 de jul. de 2009

Briga de titãs

(Correio Brasiliense)

Discussão entre adeptos da teoria da evolução de Darwin e defensores de um criador divino abala até estudantes e professores da área de ciências biológicas.

Por Tatiana Sabadini.

De um lado, a ciência. Do outro, a religião. Duas formas de responder a uma única pergunta: qual é a origem da Terra e da vida? Há 150 anos, Charles Darwin revelava ao mundo que o homem veio do macaco, que os seres vivos fazem parte de um longo processo de evolução natural. O anúncio causou polêmica. Até então, Deus era considerado o responsável pela criação do homem e do universo. Um século e meio depois, o debate entre evolucionismo e criacionismo ainda está presente nos corredores das escolas e universidades de ciências. Uma pesquisa realizada pela Universidade Estadual de Londrina (UEL) mostra que a credibilidade da teoria evolução biológica entre os estudantes universitários ainda é baixa.

Quase mil alunos de ciências biológicas, filosofia, física, geografia, história e química participaram da enquete. Mais da metade (57,3%) ficou em cima do muro. Eles aceitam a evolução biológica, mas acreditam que isso não descarta a existência de um Deus criador, enquanto 8,9% dos entrevistados rejeitaram totalmente a teoria de Darwin e creem apenas versão da Bíblia para a criação. “Existe uma relação óbvia entre a religião dos estudantes e a aceitação do tema. Também descobrimos que, quanto menor o índice de escolaridade dos pais, maior a chance dos seus filhos rejeitarem a evolução biológica”, explica Rogério de Souza, um dos responsáveis pela pesquisa e professor de biologia da UEL.

A concepção de que o homem e o Universo foram criados por Deus é a base do criacionismo. Apesar de aceitar algumas conclusões de Darwin, os criacionistas usam a Bíblia como fonte de indícios para a evolução e tentam ligar o sobrenatural e a ciência. “Nossa linha de pensamento é baseada na aceitação da existência de planejamento, projeto, desígnio e propósito na natureza”, afirma Ruy Carlos de Camargo Vieira, presidente da Sociedade Brasileira Criacionista, com sede em Brasília.

Torcidas

Para a professora de biologia da Universidade de Brasília Rosana Tidon, que nesta terça-feira ministra uma palestra na instituição sobre o tema, não é possível conciliar criacionismo com evolucionismo. “É como torcer contra e a favor do Flamengo ao mesmo tempo. Os criacionistas acreditam que a criação ocorreu 6 mil anos atrás e que não houve desenvolvimento profundo entre as espécies. Os evolucionistas não aceitam a teoria da criação, porque sabem que os seres vivos têm ancestrais comuns.”

Ela acredita que alunos e até professores de ciências religiosos, em algum momentos, enfrentam um conflito na profissão. O fato de acreditar em Deus, no entanto, não faz do cientista um criacionista. “É possível conciliar ciência com religião, desde que uma parte não prejudique a outra. Se tem um Deus ou não por trás de tudo isso, a ciência não tem como comprovar. Ao mesmo tempo, um biólogo não pode negar a teoria de Darwin”, explica.

Conciliação

Criacionista, jornalista e autor do blog Criacionismo.com.br, Michelson Borges garante que o criacionismo não está baseado apenas na religião, mas também na ciência experimental. “Reconhecemos a Bíblia como fonte de princípios morais e de respostas satisfatórias para as perguntas fundamentais da humanidade, mas também temos estudos de biólogos criacionistas que pesquisam com outro ponto de vista”, diz. O relato bíblico é considerado fonte para essas pesquisas científicas. Segundo ele, ao contrário da concepção criacionista, o evolucionismo está baseado no fato de que a vida é resultado de causas puramente naturais. “Defendemos a ideia de propósito e planejamento, explicar a vida como resultado da ação criadora de um Deus que ainda hoje se relaciona com o ápice de sua criação: o ser humano.”

Afinal, o mundo surgiu do acaso ou do planejamento? O debate é complexo e está longe do fim. Segundo os professores de biologia, para conciliar melhor a questão da fé e da ciência é preciso investir na educação. “Falta formação nas universidades, e os jovens só começam a aprender sobre evolução biológica no final do ensino médio e de forma sucinta”, afirma Rosana Tidon.

Para Rogério de Souza, as aulas de ciência não oferecem respostas às dúvidas existenciais dos alunos, nem dá suporte suficiente para a teoria evolucionista. “Muitos acreditam que, ao aceitar a evolução biológica, terão que abdicar que uma crença divina e não é assim. Temos que nos cercar dos dados científicos da evolução biológica, chamando a atenção para os problemas que ainda precisam ser compreendidos. Ou seja, devemos dar aos nossos estudantes a chance de tirarem as suas próprias conclusões”, sugere o professor.

NOTA: O Michelson Borges é Jornalista da Casa Publicadora Brasileira, e já em seu blog quando comenta sobre a entrevista dada a jornalista Tatiana Sabadini, ele diz que o debate realmente vigora e que os meios de comunicação estão cada vez mais procurando os criacionistas para dar razões de suas convivções e fé. Temos ainda interessados em divulgar - e boa parte das vezes com imparcialidade - os dois lados que permeiam a mente dos estudantes. Mas também já podemos ver sérios problemas que poderam atingir até mesmo a liberdade de pensar de futuros estudantes. Rosana Tidon chegou a observar a falta de formação no tocante a teoria evolucionista já desde o ensino médio, e Rogério de Souza foi sincéro em afirmar que as aulas de ciências não respondem sobre a questão existencial, e também acredita ser necessário melhor suporte para a teoria da evolução nas salas de aula, mas tomara que o Rogério seja imparcial quando diz: "devemos dar aos nossos estudantes a chance de tirarem as suas próprias conclusões". Seria interessante se os alunos tivessem a seu dispor nas salas de aula a teoria criacionista, assim, eles poderiam melhor tirar suas próprias conclusões. Pois decidir sobre evolução e Criação quando só se estuda evolução, é puxar muita à sardinha.

Para ler a entrevista do Michelson Clique aqui.

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