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6 de jul. de 2009

Sem lugar para o criacionismo

No primeiro plano, o repórter James Randerson, do diário britânico The Guardian, autor de reportagem que destacou a declaração do biólogo Michael Reiss (ao fundo) sobre o criacionismo na escola (foto: Bernardo Esteves).

Discussão sobre cobertura do tema pela imprensa reúne biólogo e repórter envolvidos em imbróglio


Quase um ano após o afastamento de um cientista da Royal Society por supostamente defender o ensino do criacionismo nas escolas, um evento reuniu em Londres dois dos principais protagonistas do episódio. O autor da reportagem que desencadeou a crise que culminou com a demissão do cientista se desculpou publicamente por sua parcela de responsabilidade no mal-entendido.


Os dois participaram de um simpósio destinado a discutir como a imprensa deveria abordar o criacionismo, realizado durante a Conferência Mundial de Jornalistas de Ciência, que acontece esta semana em Londres, no Reino Unido.

A confusão surgiu a partir de uma declaração do biólogo Michael Reiss, então diretor de educação da Royal Society, a academia britânica de ciências, durante o festival da Associação Britânica para o Avanço da Ciência, realizado em setembro de 2008 em Liverpool.


Na ocasião, Reiss declarou que o criacionismo deveria ser abordado nas escolas de modo a esclarecer, principalmente para os alunos adeptos das ideias criacionistas, por que elas não têm validade científica e como o conhecimento científico é construído.


Na semana seguinte, Reiss – que também é padre da igreja anglicana, a principal do Reino Unido – foi forçado a deixar seu posto na Royal Society, menos pelo que disse e mais pela forma como o episódio foi coberto pela imprensa britânica. Jornais prestigiosos afirmaram que o cientista defendia o ensino do criacionismo nas aulas da ciência, o que criou um enorme desconforto na academia britânica.


Um dos pivôs da crise foi uma reportagem do diário The Guardian assinada pelo repórter de ciência James Randerson. Embora a matéria apresentasse de forma adequada o raciocínio de Reiss, ela não era nada ponderada na abertura e no título – “Ensine criacionismo, diz cientista eminente”. Nos dias seguintes, o episódio foi noticiado por outros veículos com grande alarde.


Mea-culpa


Sentado ao lado de Reiss no simpósio desta semana, Randerson reconhece que errou a mão em sua matéria, mesmo não tendo sido o responsável pela escolha do título. “Lamento que essa matéria tenha contribuído para o afastamento de Reiss da Royal Society”, reconheceu o jornalista, hoje editor do portal de meio ambiente do Guardian na internet. “Senti-me bastante culpado por isso.”


Reiss manifestou não guardar rancor do episódio. Ele disse à CH On-line que, embora tenha deixado a academia britânica contra a sua vontade, seu afastamento teve ao menos um lado positivo. “Pude voltar imediatamente à Universidade de Londres como professor de educação científica com dedicação integral.” Reiss dirige hoje o Instituto de Educação dessa universidade.


Compromisso com a verdade[!]


Na calorosa discussão promovida no simpósio, predominou a visão de que a imprensa não deve dar o mesmo espaço a teorias evolucionistas e a visões criacionistas. “Os jornalistas de ciência não devem ser obrigados a tratar o criacionismo como uma visão válida em nome do equilíbrio só porque muitos acreditam nisso”, argumentou Randerson, que, além de jornalista, é doutor em genética e evolução.


Sua visão foi corroborada pelo jornalista Steve Mirsky, da revista Scientific American, dos Estados Unidos. Mirsky defendeu o compromisso do jornalista com a verdade. “Não podemos apenas apresentar visões opostas do mundo: temos a obrigação de esclarecer ao leitor que uma delas é a verdadeira.”


Michael Reiss ressaltou que consequências perigosas podem advir de visões equivocadas sobre a ciência, como a crença de que o HIV não causa Aids e de que as mudanças climáticas não são acarretadas por atividades humanas.


No entanto, após cinco anos ensinando ciência em escolas britânicas, Reiss não acredita que os professores consigam influenciar a crença dos alunos. “Aprendi que não tenho o poder de mudar a cabeça dos criacionistas. Seria interessante saber dos jornalistas que escrevem sobre esse tema se eles acham mesmo que podem mudar a mente das pessoas.”


Carla Almeida (*)

Especial para a CH On-line

Bernardo Esteves

Ciência Hoje On-line


NOTA: É incrível a intolerância com relação a qualquer coisa que esteja ligado a religião, melhor se expressando, a fé. Uma vez que tanto a teoria criacionista como a evolucionista usam de evidências para o que acreditam, e de acordo com os métodos de comprovação científica, a teoria evolucionista é apenas teoria, e não fato. Ambas deveriam ser abordadas em sala de aula. O criacionismo não competi para ser único nas aulas de ciência, os criacionistas querem o livre ensino de ambas as teorias. E ainda levam a teoria criacionista como não científica, pelo "envolvimento" com a religião, uma vez que a teoria usa de provas científicas, e assim como a evolução, quando algo não pode ser provado em laboratório, usa-se dos demais recursos: teorias, filosofia, especulações e tudo mais... Para saber mais sobre o acontecido na Royal Society, clique aqui.

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